Iguatu A Caatinga é um bioma único e restam somente cerca de 40% de sua área. Catalogar árvores, arbustos e ervas do semiárido é um trabalho fundamental para o conhecimento da flora e sua preservação. O agrônomo e professor do Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE), campus de Iguatu, Bráulio Gomes de Lima, acaba de lançar o livro “Caatinga, espécies lenhosas e herbáceas”, que reúne 256 espécies pesquisadas em uma área de 300 hectares na região Centro-Sul do Ceará.

 

Bráulio Gomes de Lima é engenheiro agrônomo e professor do IFCE, campus de Iguatu. Com a nova publicação, ele busca mostrar a necessidade de preservação do bioma que tem espécies raras e únicas da região FOTO: HONÓRIO BARBOSA

 

Iguatu é a base da pesquisa do professor. O trabalho de campo foi realizado em duas áreas distintas, separadas pelo Rio Jaguaribe, cristalino e sedimentar. “O Ceará tem a maior área de semiárido do Nordeste e é preciso proteger com urgência esse bioma que é parcialmente destruído a cada dia”.

O autor defende a criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA) em Iguatu para a formação de um corredor ecológico de preservação da Caatinga (fauna e flora) com urgência. “Há poucas unidades de preservação no Nordeste e o governo e a sociedade precisam agir rápidos em decorrência da intensa destruição desse bioma, que é rico e importante”.

A pesquisa demonstra que há espécies exclusivas da região Centro-Sul e que recebeu influência da flora da Chapada do Apodi, que separa Ceará e Rio Grande do Norte. “Os ventos como o Aracati favoreceram a disseminação dessas espécies”, observou. “Não há relação da nossa vegetação com a Chapada do Araripe (localizada no Cariri cearense) e nem com a Serra Cruz das Almas no Piauí”.

A pesquisa do professor demonstra que a área cristalina é mais rica de biodiversidade porque há menos concorrência, o solo é mais raso e de difícil adaptação, do que a área sedimentar, que oferece sombreamento, as plantas crescem mais e reduzem o surgimento de outras espécies. Foram coletados 750 espécimes que hoje fazem parte do acervo do Herbário MOSS, da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), em Mossoró (RN). O autor fez um trabalho comparativo com outros 11 trabalhos científicos publicados no Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco e observou que há espécies exclusivas e raras na região Centro-Sul. “Há quatro espécies que ainda não foram identificadas”, frisou Bráulio.

O livro foi publicado pela Editora Universitária da Ufersa e tem mais de 300 páginas. Apresenta fotos e catalogação das espécies pesquisadas. A publicação teve como base a tese de doutorado defendida pelo professor Bráulio Gomes na Ufersa, que teve como título “Composição florística e análise fitossociológica em duas áreas de caatinga no Centro-Sul cearense”. Bráulio Gomes observa que a Caatinga passou por um processo de adaptação ao longo da formação da Terra e mostra ser mais resistente às temperaturas elevadas e dificuldades climáticas. “A flora é uma verdadeira adaptação da natureza que mostra alternativa de sobrevivência e resistência, transformando flores em espinhos, por exemplo”. Recentemente, houve queimada intensa na Chapada do Moura, em Iguatu, que destruiu vegetação de uma área sedimentar. “Com certeza, houve morte de espécies”, frisou. “Precisamos proteger e estudar regionalmente as nossas espécies da Caatinga, pois temos singularidade”.

Ele observou que, durante décadas, o bioma foi desprezado pela comunidade científica, que o considerava pobre e sem importância. Ao longo dos anos, a relação dos produtores rurais que ocuparam o sertão foi de destruição, substituição de matas nativas para abertura de áreas de produção agrícola e criação de animais. Economicamente, o valor atribuído à madeira de lei fez com que as outras espécies fossem desprezadas.

“É preciso ver com outros olhares a Caatinga, que é pouco estuda. Por isso me motivei a escrever esse livro para que sirva de alerta e de base para novas pesquisas e publicações”, explicou o professor Bráulio Gomes.

Cumaru, juazeiro, pau ferro (jucá), mutamba, sabonete, trapiá, oiticica, marmeleiro, catingueira, pereiro, sabiá, canafístula, muquém são as espécies arbóreas mais conhecidas na região Centro-Sul.

Na próxima terça-feira, dia 9, o livro será lançado no IFCE das cidades de Crato e Juazeiro do Norte. No dia 16, será na Ufersa, em Mossoró. A publicação custa R$ 22,00.

 


 

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER  – DIÁRIO DO NORDESTE – MEIO AMBIENTE  – http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1189360

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *