As estiagens prolongadas estão incorporadas à vida sertaneja, observando intervalos, entre uma e outra, de dois, quatro ou sete anos. Isso, ao longo da história do semiárido nordestino. Portanto, já deveria haver no governo nacional o planejamento de ações permanentes fundadas nas previsões realizadas pelos diversos institutos de meteorologia como a Funceme, a maior conquista do Ceará em termos de enfrentamento das secas.
Entretanto, os longos anos de sofrimento da população rural, decorrentes da má distribuição das chuvas no tempo e no espaço, continuam se repetindo como se o progresso não tivesse proporcionado aos governantes mecanismos para minimizar os problemas. Os fatos do presente são encontrados com similitude nos textos produzidos pelo senador Tomaz Pompeu, por Arrojado Lisboa, Rodolfo Teófilo, Tomaz Pompeu Sobrinho, Graciliano Ramos ou Rachel de Queiroz, entre centenas de cronistas.
A existência do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) se confunde com mais de um século de atuação voltada para diagnosticar, indicar soluções técnicas e preconizar saídas racionais para as secas, como a açudagem, os perímetros irrigados, a produção de pescado, as lavouras xerófilas e o reflorestamento do Nordeste, amparados numa infraestrutura dotada de rodovias, aeroportos, energia elétrica, agroindústrias e centros de tecnologia das secas.
O Dnocs, colocado em compasso de espera, conseguiu tudo isso, e mais: o desenvolvimento de uma ciência gerada a partir das peculiaridades regionais, especialmente o bioma caatinga, único no mundo. O chamado Polígono das Secas continua como antes. A única mudança foi o seu crescimento para incluir o norte de Minas e o nordeste capixaba.
A imprevidência nas ações governamentais em relação às secas tem sido o traço comum, ontem como hoje. As consequências da seca em curso, considerada como a pior dos últimos 40 anos, foram previstas no relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). No fim de março, o relatório confirmava a tendência de aumento das temperaturas desde 1950, as variações climáticas não naturais e a sua provável causa: a interferência do homem. O documento, elaborado pelos maiores especialistas do mundo em ciência do clima, mostra claramente que as secas vão se tornar mais frequentes. O Nordeste brasileiro será uma das regiões mais atingidas, ao lado da América Central, México, Europa Mediterrânea, norte da África, África do Sul e Austrália. No semiárido nordestino, tende a aumentar o risco de desertificação.
O Ceará, nas últimas décadas, conseguiu reduzir a produção rural a apenas 8% do PIB agropecuário. Mesmo assim, em circunstâncias como esta, há a sobrevivência das populações rurais, dos animais e do meio ambiente. Um efeito imediato se opera nos preços dos produtos agrícolas, estando cotado o quilo do feijão em mais de R$ 6,00.
O governo do Estado está anunciando o orçamento de R$ 426,5 milhões para o custeio das ações contra a seca. Pela primeira vez, de forma ordenada, a força-tarefa encarregada de atuar junto aos três níveis de gestão pública sabe onde aplicar os recursos: em sistemas de produção agroecológica integrada e sustentável, projetos da agricultura familiar, irrigação de quintais produtivos, cisternas e sistemas de abastecimento d´água.
A transparência será a tônica no emprego dessa massa expressiva de recursos da União e do Estado, para apagar a triste memória da indústria das secas.
FONTE: JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE
Editorial 08 de maio de 2012
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1135006