Canindé. Os irmãos agricultores Estêvão e Batista de Sousa estão inovando as práticas agrícolas e obtendo bons resultados de convivência com o semiárido. Apostando na diversidade de culturas plantadas e inventando as próprias ferramentas de processamento, estão garantindo alimento e renda, em contraste com a realidade de seca e fome na maior parte do sertão.

O caminho para o ´pé´ da Serra do Bonito, na zona rural de Canindé, no Sertão do Ceará, segue o rastro da fome. Na beira da estrada, a pele seca da vaca morta indica que o animal tombou faz alguns dias. Tudo em volta é desolação. O milho seco virou palha antes mesmo de ser colhido.

A última notícia de chuva na cidade foi em março deste ano. De lá para cá, nem mais uma gota. A modesta propriedade dos agricultores Estevão e João Batista, é uma surpresa para olhos e ouvidos já calejados pelos relatos e imagens da seca.

Na lavoura, o improvável brota da terra: pés de tomate, pimentão, jerimum, melancia, cheiro verde, coentro, verduras, feijão todas cultivadas sem agrotóxico. Em pouco mais de dois hectares, espalham-se também fruteiras variadas. Têm goiaba, manga, banana. Basta esticar a vista e enxergar o contraste: no terreno vizinho ao do agricultor, só pasto seco. É fácil entender o milagre da fertilidade em meio à terra arrasada. Ele é fruto de iniciativas simples, tecnologias baratas e, sobretudo, de uma mudança de mentalidade no trato com a terra.

Quatro mil pés de tomate, de pimentão e três hectares de feijão verde formam o plantio dos irmãos que vêm desenvolvendo a agricultura. O secretário do Desenvolvimento Agrário, Antônio Amorim, técnicos da Ematerce de Canindé, do Instituto Agropolos e do Ministério do Desenvolvimento Agrário visitaram e elogiaram o plantio dos irmãos.

“Em pleno sertão, com uma temperatura que chega a 43ºC graus, esses jovens fazem chover no meio da seca. A irrigação em minha propriedade é uma das saídas para mudar a vida no campo. Para quem não sabe, um pé de tomate equivale a seis quilos do produto. É um negócio rentável”, explica Antônio Amorim.

Para ele, tudo está dentro dos padrões, com uma produção orgânica com cobertura morta, bagana (palhas de carnaúba triturada), para proteger a terra, fazem parte do projeto. Em 500 metros quadrados é produzido o suficiente para mil caixas de tomate de 20 kg, cada. Um quilo de tomate custa R$ 3,00 e um quilo de feijão verde R$ 7,00.

O início foi de muita dificuldade. Com a ajuda do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que atua há 43 anos em Canindé, os irmãos agricultores conseguiram construir uma cacimba no leito do rio.

“Nossa primeira tentativa, sozinhos, foi um desastre. Cavamos uma cacimba ´meia-sola´ e com pouco tempo ela desmoronou. O Sindicato nos orientou, e aí a coisa deu certo”, conta Francisco Estevão de Sousa.

O passo decisivo para fazer a pequena revolução na lavoura eles também aprenderam com orientações da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA). Montaram um sistema de aspersão simples, com canos finos e baratos, que leva a água da cacimba para matar a sede das hortaliças, verduras e frutas.

Estevão lembra que, na época, tentou o apoio de outros agricultores vizinhos, que já tinham poços em suas propriedades. Juntos, instalariam um sistema de gotejamento de água que alimentaria a todos. No entanto, nenhum se interessou. “Eles estão acostumados a viver esperando a chuva cair do céu. O sertanejo não pode mais aceitar viver dependendo de ajuda governamental”, considera.

Se trabalhasse hoje só no milho e no feijão, a família Sousa estaria como milhares de outras, dependendo de maior empenho governamental.

“No começo, disseram que a gente estava doido, mas hoje, perto do que a gente era, posso dizer que sou um homem milionário”, orgulha-se João Batista.

Os irmãos Estevão e João são movidos pela curiosidade. Já criaram até uma máquina de debulhar feijão verde que faz o maior sucesso no meio dos agricultores familiares do Sertão Central. Agora estudam uma maneira de captar água do leito do rio para aumentar a produção.

“Para quem ficou plantando capim, veio a seca e dizimou tudo. Já passei muito aperto com a estiagem. Foi o sofrimento que me ensinou a fazer diferente”, diz João Batista. Os agricultores esperam que agora os vizinhos copiem suas boas práticas.

Mais informações:
Sindicato dos Trabalhadores Rurais
Avenida Francisco Cordeiro Campos – Centro
Telefone: (85) 3343.0336

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

Por: ANTÔNIO CARLOS ALVES – COLABORADOR

Foto: Mesmo na estiagem foi possível garantir o plantio de hortas e frutas e garantir a venda no sertão de Canindé. Em cinco hectares produziram-se 20 mil quilos de tomate Autor: ANTÔNIO CARLOS ALVES

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1146397

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