Os cultivos silvícolas combinados com agricultura e pecuária recuperam tradições e incorporam conhecimentos científicos novos
Rio de Janeiro, Brasil, 22 de junho de 2012 (Terramérica)
O agrorreflorestamento surge como uma ferramenta de adaptação e mitigação de mudanças climáticas na América Central, região onde o aquecimento global poderia gerar perdas de 19% do produto interno bruto. “A única alternativa que nos resta é o agrorreflorestamento para adaptar e mitigar as mudanças climáticas”, disse ao Terramérica o diretor-executivo da Associação Coordenadora Indígena e Camponesa de Agrorreflorestamento Comunitário Centro-Americano (Acicafoc), Alberto Chinchilla.
Um encontro paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada entre 20 e 22 deste mês, no Rio de Janeiro, discutiu o conceito desta agricultura climaticamente inteligente, que pode ajudar a reduzir a vulnerabilidade do istmo. Na reunião estiveram presentes ministros, cientistas, técnicos e agricultores.
Um sistema agroflorestal incorpora árvores aos trabalhos agrícolas e agropecuários. Sua prática, acompanhada de pesquisa científica, permite encontrar métodos e tecnologias amigáveis com o meio ambiente, explicou Chincilla. Por exemplo, as árvores permitem recuperar nascentes de água, protegem os cultivos com sua sombra, conservando mais a umidade e mantendo mais frescas as terras de pastagem, o que reduz o estresse de calor do gado. Também podem ser recuperadas espécies nativas ou em extinção e melhorar a segurança alimentar das comunidades.
“O agrorreflorestamento é vincular a agricultura, a produção de alimentos a as árvores. Não podemos seguir com políticas agrícolas com o Ministério da Agricultura separado do Ministério do Meio Ambiente. Temos que harmonizar essas políticas, e que as árvores sejam parte da agricultura”, acrescentou Chincilla.
Os efeitos da mudança climática são as principais ameaças que sofre a região, formada por sete países com uma população de 43 milhões de habitantes, quase a metade deles pobres. A superfície da região tem apenas 27,5% de áreas protegidas. No entanto, possui uma grande biodiversidade, segundo Rigoberto Cuéllar, titular da Secretaria de Recursos Naturais e Meio Ambiente de Honduras.
Cuéllar apoia a implantação do sistema agroflorestal em seu país. “A mudança climática é um dos aspectos que limitam o desenvolvimento sustentável da região. Estamos apoiando fortemente o agrorreflorestamento e o impulso às atividades produtivas. É preciso definir políticas claras para cruzar ações coordenadas nos países”, destacou.
O PIB centro-americano cresce 5% ao ano, mas estima-se que a região perdeu 1,7 pontos do PIB nas duas últimas décadas, devido aos desastres climáticos. Segundo Chincilla, a prática agroflorestal avançou na última década na região. Os países centro-americanos podem se converter em vanguarda por uma série de projetos promovidos pelo agrorreflorestamento e pela segurança alimentar.
O Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e o Fundo Japonês, por intermédio do Banco Mundial, estão destinando recursos para reforçar sistemas agroflorestais em cultivos de cacau, café, silvopastoris e de reflorestamento. Nos próximos quatro anos serão investidos US$ 10 milhões em agrorreflorestamento comunitário mediante projetos de sócios da Acicafoc. Os beneficiários são membros de comunidades indígenas e camponesas.
O desafio é aliar o conhecimento tradicional com o científico, apontou Chinchilla, acrescentando que a Acicafoc está organizando, junto ao Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (Catie), um programa de capacitação para reforçar os conhecimentos tradicional e o acadêmico em matéria de sistemas agroflorestais tropicais.
A guatemalteca Associação de Desenvolvimento Produtivo e de Serviços Tikonel é um exemplo de trabalho local com produtos agroflorestais. Seu diretor-executivo, Francisco Xanté Lobos, explicou que a Tikonel atua com 16 comunidades rurais, a maioria maias k’iche’, que cultivam espécies de pinheiro e cipreste, em plantações que conseguiram certificados de selo verde. Também produzem café, macadâmia e cacau, combinados com espécies de madeiras.
“Após 20 anos, vimos que fizemos muitas coisas no desenvolvimento sustentável. Queremos pedir aos governos que apostem mais no desenvolvimento integral para que contribuam para uma melhor qualidade de vida”, afirmou Xanté Lobos ao Terramérica. A Costa Rica é um exemplo de esforço nacional de reflorestamento e pagamento por serviços ambientais. Segundo o ministro do Meio Ambiente, René Castro, a cobertura florestal desse país chegou a ser de apenas 21% do território nacional em 1987, mas em 2010 cerca de 52% estavam recuperados.
“Este ano alcançaremos 4,8 milhões de árvores, uma por habitante. Isto faz parte de um esforço nacional, por meio de um imposto sobre combustíveis”, seguindo a ideia de que “quem contamina paga”, mediante o instrumento de pagamento por serviços ambientais, explicou Castro em sua apresentação. Um programa adicional na Costa Rica está focado no reflorestamento com árvores nativas e em perigo de extinção. “É dado prêmio de 50% do pagamento ao pecuarista ou agricultor que plantar espécies ameaçadas. É um instrumento simples que demonstra que é possível recuperar”, afirmou.
FONTE: Revista Envolverde – Ambiente – 25/6/2012 – 08h50
Por: Fabíola Ortiz – A autora é correspondente da IPS.