por Donat Muamba, da IPS – Inter Press Service – Reportagens – 11/9/2012 – 09h52
Mbuji Mayi, República Democrática do Congo, 11/9/2012 – Apesar da desesperada falta de água potável para uso doméstico em Mwene Ditu, no centro da República Democrática do Congo (RDC), paradoxalmente, as autoridades tiveram que fechar vários poços por razões sanitárias. “Foram cavados em velhos cemitérios, em terras recém-demarcadas e perto de latrinas”, explicou Dieudonné Ilunga, diretor do Departamento de Investigação de Recursos Hídricos dessa cidade da província de Kasai Oriental.
Em Mwene Ditu, onde apenas 10% de seus 600 mil habitantes estão conectados à rede de fornecimento, há água às segundas e sextas-feiras. Vianney Muadi, que vive com o marido e dois filhos no bairro de Musadi, contou que junta toda a água que pode quando ela existe. “Às vezes passam semanas inteiras sem esse serviço”, lamentou. “Mas a água potável não pode ficar ao ar livre”, disse Ilunga. Ele quer que a rede seja reabilitada e chegue aos bairros periféricos, mas a empresa pública Regideso tem vários inconvenientes.
As perdas de água pela idade avançada das tubulações são um problema em Mbuji Mayi, a principal cidade desta província, onde pouquíssimos dos 3,3 milhões de moradores têm água. “Nossa rede tem três mil cientes e, basicamente, metade deles está em Mbuji Mayi”, reconheceu Jean-Pierre Mbambu, chefe da estação de distribuição da Regideso, empresa de distribuição e comercialização da água na RDC.
Os encanamentos podem estar danificados pela entrada não controlada de água de chuva. Contudo, ainda que as perdas sejam reparadas, a empresa é incapaz de bombear água por falta de eletricidade. A administração provincial tentou colaborar com óleo combustível para os geradores elétricos, mas é uma opção cara, e a Regideso tem problemas econômicos derivados, em parte, da falta de pagamento pelos usuários. Nesse contexto, as pessoas que não estão ligadas à rede têm que se arranjar por si só.
Foram cavadas dezenas de poços, especialmente em Mwene Ditu, mas também em outras partes da província de Kasai Oriental. Também utilizam água de rios e mananciais próximos a vários povoados. “No entanto, essas fontes de abastecimento não estão bem cuidadas nem protegidas”, advertiu Placide Mukena Kabongo, chefe do Serviço Nacional Hidráulico Rural (SNHR) em Ngandanjika, 90 quilômetros a sudeste de Mbuji Mayi. Ele enfatizou que seu pessoal está fazendo o possível para explicar às pessoas como evitar a contaminação dos cursos de água.
“O SNHR cavou 578 poços e construiu 480 fontes de abastecimento em oito dos 16 territórios da província”, disse Mukena à IPS, mas acrescentou que as obras datam da época colonial, apesar dos acertos depois da independência em 1960. Há outros poços profundos, que foram cavados por jovens desempregados que tentavam uma forma de ganhar a vida. “Fazem isto sem respeitar padrões, por isso a qualidade da água é duvidosa”, contou Musole Kakonde, que também lamentou o uso de baldes sujos para recolher água e a falta de saneamento para impedir sua contaminação.
“No ano passado, teve um dia em que tiramos um sapo morto de nosso poço”, disse à IPS a jovem universitária Adjany Tshimbombo, de Mbuji Mayi. Desde então só toma água após fervê-la. A consequência lógica desta situação é o aumento de doenças derivadas da água contaminada, segundo autoridades sanitárias provinciais. Kakonde, chefe de higiene do departamento de saúde esta província, disse à IPS que doenças como diarreia, disenteria, esquistossomose e febre tifoide afetam um número maior de pessoas, adultos e crianças por igual, tanto em áreas rurais como urbanas.
“Na primeira metade de 2012, registramos mais de 79 mil casos de diarreia e disenteria, e 29 pessoas morreram”, afirmou Jean-Pierre Katende Nsumba, responsável pelo controle de enfermidades da província. Kakonde disse à IPS que tem as mãos atadas no tocante a atender o problema. “Não posso proibir as pessoas de beberam água de poços e mananciais. Só o que posso fazer é pedir-lhes que os mantenham limpos e tratem a água potável para evitar doenças”, destacou. As pessoas da área, em geral, não podem comprar tabletes purificadores, e “recomendamos que toda a água, tanto da Regideso ou de rio, mananciais e poços, seja fervida antes de ser usada para evitar doenças”, ressaltou Nsumba. Envolverde/IPS