por Paul Brown, do Climate News Network
Água limpa, florestas e outros recursos naturais estão sendo usados insustentavelmente, então alguns dos maiores bancos do mundo planejam cortar o crédito de companhias que dependem desses recursos mas não os valorizam.
Não é fácil colocar um valor em uma floresta, um rio limpo, ou no ar não poluído, mas é isso que um grupo dos maiores bancos mundiais está tentando fazer.
Eles concordaram que a forma como o atual sistema econômico usa, e muitas vezes destrói, o meio ambiente sem pagar para fazê-lo não é sustentável.
Os bancos também estão preocupados pois algumas companhias estão usando recursos naturais muito rapidamente, sem pensar em seu próprio futuro, e muito menos no do planeta, que entrará em colapso. Eles querem uma forma de alertá-los e, em última análise, de retirar o crédito a menos que as companhias ‘consertem’ seus caminhos.
As 43 instituições financeiras, incluindo o Banco Mundial, estão estabelecendo um grupo de trabalho como consequência da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012, também conhecida como conferência Rio+20, quando 39 grandes bancos assinaram a Declaração do Capital Natural.
A declaração definiu capital natural como “os bens naturais da Terra (solo, ar, água, flora e fauna), e os serviços ecossistêmicos resultantes deles, que tornam a vida humana possível.”
O documento foi adiante, dizendo que alimentos, fibras, água, saúde, energia, segurança climática e outros serviços essenciais fornecidos pelo capital natural valem trilhões de dólares por ano, mas que eles não são valorizados adequadamente.
Punição e incentivo
“Apesar de ser fundamental para nosso bem-estar, o uso diário [dos bens naturais] permanece quase despercebido em nosso sistema econômico. Usar capital natural dessa forma não é sustentável”, afirma a declaração.
Os banqueiros foram adiante, reconhecendo que isso era parcialmente culpa deles, pois eles não criaram uma forma de valorizar esse capital natural, nem reconhecem atualmente o perigo de algumas companhias à estabilidade por causa de sua destruição aos recursos.
Eles querem que os governos forcem as companhias a revelarem em relatórios financeiros anuais sua dependência do capital natural e o impacto que elas têm. Eles também querem penas para companhias que não fizerem isso e incentivos tarifários para as que protegerem o capital natural como parte de seu negócio.
Mineração e fracking
Contudo, os banqueiros sabem que, a fim de valorizar o capital natural, alguém tem que descobrir quanto ele vale em termos monetários. Qual valor você pode colocar em um hectare de floresta pelo ar limpo, coleta de chuva, sequestro de carbono e alimentos que fornece? E tão importante quanto isso, qual é a perda econômica se for destruído?
Indústrias como a mineração e o fracking estão na linha de frente porque já se percebe que suas operações prejudicam e usam água limpa e recursos e causam poluição. Os banqueiros querem colocar um preço financeiro nisso e se perguntam se o risco financeiro que o uso excessivo dos recursos causa aos negócios os torna um investimento ruim.
Mas todas as empresas, mesmo os bancos que controlam os investimentos, têm um impacto no ambiente natural, que eles geralmente não pagam e que não aparece nas contas. Então, para transformar sua declaração de um ano atrás em algo mais tangível, os banqueiros têm que estabelecer o grupo de trabalho para colocar um preço no mundo natural.
Liesel Van Ast, gerente de projeto para a Declaração do Capital Natural, está trabalhando com o Instituto Financeiro das Nações Unidas em Genebra para ajudar os banqueiros a estabelecerem uma série de compromissos para implementar a declaração.
Sem ilusões
Ela observou: “Os banqueiros precisam resolver a forma como serão responsáveis pelo capital natural, explicar a todos por que precisam fazer isso e então dizer como fazer isso.”
“No momento, o uso excessivo de capital natural não é visto como um risco de negócio, pois todos acreditam que podem lidar com isso antes que os recursos se esgotem e ocorram crises. Esperamos mudar essa atitude e fazer com que as companhias paguem um preço pelo uso excessivo de capital natural.”
Ninguém tem qualquer ilusão de que o compromisso dos banqueiros, de fazer com que o capital natural seja contabilizado nos balanços e seja considerado no preço das ações, juros sobre empréstimos e custo de seguros, vá acontecer rapidamente.
Eles estabeleceram a si próprios a meta de 2020 para ter um sistema internacional operando, reconhecido por todos os governos e assinado pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Pode ser um trabalho vagaroso e difícil, mas eles acreditam que isso é vital para evitar que o atual sistema econômico destrua o planeta.
* Traduzido por Jéssica Lipinski.
** Publicado originalmente no Climate News Network (inglês) e retirado do site CarbonoBrasil.