Menos da metade das florestas derrubadas no passado terá de ser recomposta pelas regras da nova lei, de 2012
Herton Escobar – O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO – O tamanho da área desmatada total dentro de propriedades rurais no Brasil que deverá ser obrigatoriamente recomposta foi reduzido em 58% pelo novo Código Florestal, em comparação com a lei anterior, segundo um artigo científico publicado na revista Science.
“Na prática, até agora, a única coisa que o novo Código Florestal fez foi perdoar multas”, disse ao Estado o pesquisador Raoni Rajão, da Universidade Federal de Minas Gerais, que assina o trabalho com sete colegas do Brasil e dos Estados Unidos.
O novo código, aprovado em maio de 2012, perdoou os desmatamentos realizados antes de 2008 e flexibilizou exigências relacionadas à conservação de matas de beira de rio (ciliares) e topos de morro, que formam as chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs). Pelo cálculo dos cientistas, o resultado é que o “passivo ambiental” do País – ou seja, o total de áreas ilegalmente desmatadas que precisam ser recuperadas – foi reduzido de 50 milhões para 21 milhões de hectares.
Já a soma das áreas privadas que ainda poderão ser legalmente desmatadas é quatro vezes maior: 88 milhões de hectares (a maior parte disso no Cerrado). Um impacto que poderá ser reduzido em 58%, segundo os autores, com a implementação do mercado de Cotas de Reservas Ambientais (CRAs): títulos sobre áreas excedentes de floresta em uma propriedade que podem ser comercializados para compensar o passivo ambiental de outra propriedade no mesmo bioma.
Na avaliação dos autores, a recuperação de APPs não deve ser vista como um problema para a agricultura nacional. Segundo eles, a recomposição de matas ciliares afetará menos de 1% da área agrícola do País.
Crítica. Um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente (MMA) discordou da avaliação dos pesquisadores de que o Código Florestal ainda não trouxe benefícios práticos. “Tudo indica que o quadro atual é completamente diferente do que tínhamos antes”, disse Luiz Antonio Carvalho, assessor especial da pasta. “Talvez haja um pessimismo exagerado(por parte dos autores do artigo).”