O Município é o que apresenta o menor índice pluviométrico até hoje no Ceará desde o início do ano
A prioridade para a família do pequeno agricultor Francisco Édson Soares, em Milhã, é garantir a sobrevivência nos próximos dias. “Nunca tínhamos visto algo igual até hoje. O sofrimento da gente é muito grande. O dos animais é maior ainda. Não sei até quando vou conseguir alimentação e água para eles”, desabafa, enquanto a sua esposa, dona Antônia, prepara o “almoço”.
A refeição, praticamente a única da família durante o dia, está sendo feita graças à fava do feijão que, ao invés do caminho da lavoura, está indo para a panela. “Não adianta perder, arriscar na plantação. A gente tem que comer alguma coisa à espera por dias melhores”, diz, resignado, seu Francisco.
“Há mais de um mês, a gente não sabia o que era o gosto de um feijãozinho. Foi melhor mandar para a panela. Assim, a gente vai ganhando tempo. Pode ser que volte a chover de uma hora para outra e as coisas melhorem por aqui”, reforça dona Antônia, esposa de Francisco.
Com o cartão do Bolsa-Família na mão, a dona de casa diz que ele é a salvação da família, que reside numa casa de taipa numa situação de extrema miséria. “O valor que a gente recebe é muito pequeno (R$ 166,00 por mês). Mas, é a certeza de que, apesar de todas as dificuldades, não passaremos fome”, argumenta dona Francisca.
Animais
Com problemas de coluna, seu Francisco confessa que há momentos em que bate o desânimo. “Tudo tem limite. Não vou desistir pois tenho três filhos menores para criar. Mas, às vezes, com o pouco do milho e do feijão que plantei já perdido, fico imaginando como faremos para superar tanto sofrimento”.
Seu Francisco se ressente da falta de serviço. “Passo o dia à procura do que fazer. Ninguém quer construir cerca ou brocar a terra nesse período. O quilo do feijão por aqui já chegou a R$ 7,50. Muita gente diz que não adianta mais chover por causa da lavoura perdida. É claro que precisa. Pelo menos, isso evitará o sofrimento dos animais e garantiria o abastecimento”.
Uma das vizinhas, dona Alzenir Pereira da Silva, não se conteve ao relatar seu drama à reportagem. Aos prantos, ela diz: “Nossa situação é desesperadora. Um jumento traz água para gente beber. Sem chuva tudo piora. A minha conta de luz vai ser cortada”, destaca, ao apresentar três faturas no valor aproximando de R$ 20,00 atrasadas. Apesar de tudo, a mãe de cinco filhos menores, não perde a fé. “Espero que Deus veja a nossa situação e mande dias melhores”.
FONTE: JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE – REPÓRTER – FERNANDO MAIA, 29.04.2012
FOTO: KID JÚNIOR – O agricultor Francisco Édson Soares, apesar dos problemas com a coluna, passa o dia à procura de serviço na zona rural de Milhã, mas afirma que só encontra trabalho se começar a chover