No Brasil, o trabalho do consagrado fotógrafo Sebastião Salgado está ajudando a salvar o Rio Doce, que enfrenta a pior seca da história. O projeto “Olhos D´Água” já ajudou a recuperar nascentes em sete municípios de Minas e do Espírito Santo, banhados pelo rio.
O mesmo lugar. Cenários bem diferentes. Dezesseis anos atrás, era pasto. Agora, mata. Setecentos hectares de floresta.
A transformação aconteceu na fazenda em Aymorés, Minas Gerais, terra do fotógrafo Sebastião Salgado. Ele foi criado no local e depois de viajar mundo afora, registrando animais e todo tipo de paisagem, se assustou com a destruição Rio Doce.
“Assusta muito. O Rio Doce é o meu rio. O rio tinha quatro metros de profundidade. Hoje você atravessa o rio com sandália de dedo, o rio morreu assoreado, sem água”, falou Sebastião Salgado.
Mas dava para fazer alguma coisa para salvar o rio. Sebastião e a esposa, Lélia Salgado, perceberam isso quando decidiram reflorestar a fazenda.
“Vamos plantar aqui uma floresta outra vez, porque a gente não precisa dessa terra para viver então nós podemos fazer uma floresta aqui e na mesma hora Sebastião aceitou e achou lindo. Então foi assim sonho”, fala Lélia.
Eles ganharam as primeiras árvores, mas era preciso mais de dois milhões. Começaram a produzir mudas, nativas da Mata Atlântica e junto com as árvores, voltou a água. Nascentes, antes secas, renasceram.
“Era época de seca e quando eu passei num lugar estava tudo molhado. Gente que água é essa. Eu parei o carro e fui ver e tinha uma nascente de água começando a sair, um olho d’água jorrando. Foi assim uma emoção enorme, um milagre”, explica Lélia.
Se deu certo no local, poderia funcionar também em outras fazendas da região. Inspirada nessa ideia, uma propriedade virou um laboratório, para um projeto ambicioso que pretende recuperar toda a bacia do Rio Doce.
A fazenda virou a sede do Instituto Terra, que arrecada recursos para distribuir madeira, arame, mudas e assistência técnica aos agricultores. Eles ganham tudo. Em troca, precisam cercar as nascentes e plantar as mudas doadas pelo instituto em volta da fonte de água.
O Jornal Hoje Sebastião Salgado e a esposa em uma visita a uma pequena fazenda. O agricultor cercou a nascente há quase um ano e fez uma diferença.
Mil e duzentas nascentes estão protegidas. A meta é recuperar todas as 370 mil que compõem a bacia do Rio Doce. É um trabalho para 20 ou 30 anos. E o futuro do projeto está garantido com estudantes recém-formados na área agrícola, eles ficam no instituto um ano aprendendo técnicas de reflorestamento e assumem um compromisso: cada um tem que ajudar de proteger 150 nascentes.
“Esse é o nosso papel, despertar as pessoas para a área ambiental, porque, às vezes, a gente só lembra quando está precisando”, fala a técnica agrícola Juliana Miranda.
“Esse problema todo da água. A gente pode ajudar que essa crise não exista mais”, diz Lélia.
“Nós podemos fazer, mas com todos juntos. É um problema de todos, de governo de empresas e dos cidadãos, é um problema nosso”, diz Sebastião.
O projeto “Olhos D’Água” é considerado pela ONU como um dos 70melhores do mundo de recuperação e conservação de recursos hídricos.