Sem pasto, água e milho da Conab em quantidade compatível à demanda, a pecuária enfrenta prejuízos

Iguatu É cada vez mais grave a situação da pecuária no sertão cearense em decorrência da seca que se abateu neste ano. A reserva de forragem armazenada em silos chegou ao fim e a de água está no limite. O milho comercializado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não atende à demanda.

O resultado desse quadro é a queda de 50% da produção de leite e do número de rebanho bovino, segundo estimativa do Sindicato dos Produtores de Leite do Ceará (Sindleite).

Na feira semanal realizada na cidade de Quixadá, no Sertão Central, principal evento da pecuária do Ceará, a reclamação dos criadores é geral. “Sem condições de manter os bovinos, o jeito é vender os animais com queda de 60% para o abate ou recria e engorda para outras regiões”, disse o presidente do Sindleite e coordenador da Câmara Setorial do Leite, Álvaro Carneiro Júnior.

Na avaliação de Álvaro Júnior, os pequenos criadores são os que enfrentam as maiores dificuldades. “Neste ano, não houve forragem e quem tinha reserva de 2011, chegou ao fim”, explicou. “Muitos enfrentam até falta de água porque poços e açudes estão secando”. Ele avalia que houve um aumento significativo nos dois últimos meses de comercialização de bovinos na tradicional feira de Quixadá. “Animal que valia R$ 700,00, hoje é vendido por R$ 300,00 para abate ou recria na região de Cascavel, que tem pastagem”.

O criador José Pereira, de Icó, disse que o gado está magro porque não há como alimentar os animais. “No começo do ano, estava com 40 cabeças, mas já vendi 18 e só não vendo mais porque não há comprador”, contou. “Daqui para a frente a situação vai piorar cada vez mais”.

O diretor de Sanidade Animal da Agência de Defesa Agropecuária (Adagri), Nélio Morais, disse que a tendência é de crescimento na venda de bovinos por causa da estiagem, mas oficialmente ainda não há dados sobre redução do rebanho de gado de corte e de leite. O número de Guias de Transporte de Animal (GTA) cresceu 55% no primeiro semestre deste ano em comparação com igual período de 2011. “As reservas de alimentação e de água estão se exaurindo no sertão e os criadores enfrentam dificuldades para manter o rebanho. O aumento do número de GTA resulta também em maior fiscalização e ampliação de unidades da Adagri no Estado”.

O coordenador de Cadeias Produtivas da Pecuária da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Márcio Peixoto, disse que o governo investe em capacitação e orientação para que os criadores tenham alternativa de alimentação como a palma forrageira e a formação de silos. “Em novembro, por ocasião da segunda etapa da vacinação da febre aftosa, teremos atualização do cadastro dos criadores e saberemos o quantitativo de redução do rebanho”.

O secretário de Políticas Agrícolas da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Ceará (Fetraece), Luis Carlos Ribeiro de Lima, considera de extrema gravidade a situação dos criadores de bovinos. “O setor da agricultura familiar é o mais afetado”, disse. “A oferta de milho é insuficiente e os pequenos criadores têm dificuldades para adquirir o produto, que logo se acaba na Conab”.

Luis Carlos criticou o atraso na liberação dos projetos de financiamento do crédito agrícola especial para a seca que se acumulam nas agências do Banco do Nordeste. “Temos informações de que animais que valem R$ 600,00 são vendidos por R$ 200,00 ou R$ 100,00”, frisou. “Falta alimento e água”.

Produtores de leite de Jaguaribe enfrentam dificuldades para manter seus rebanhos. A seca afetou a produção de alimento e secou os reservatórios. A falta do milho também obrigada produtores a reduzirem seus rebanhos. Há casos em que a diminuição chega a 80%.

A falta de incentivo do poder público tem complicado a situação, de acordo com a presidente do Sindicato dos Produtores de Leite, Maria Zimar Diógenes. Ela diz que a maior dificuldade está no transporte do milho para a Conab de Icó, onde a maior parte dos produtores da região compra o produto. “O problema é que não está chegando milho. Estamos tentando reunir produtores para conseguirmos um carro para trazer o milho de Goiás para Icó”, explica. A iniciativa deixará o produto mais caro. O preço da saca de 60Kg ficará em torno de R$ 27,00. “Antes comprávamos a R$ 21,00”, explica.

Zimar diz também que fazendeiros estão vendendo seus rebanhos para evitar maiores prejuízos. “Rebanho pequeno esta sendo vendido para Goiás, Pará e Maranhão. O boi gordo está indo para o corte, onde conseguimos ainda manter um preço estável, entre R$ 95,00 e R$ 100,00 o preço da arroba” explica.

Por conta da venda dos animais, o leite teve seu preço reajustado. “Nossa produção caiu muito nos últimos cinco meses, com redução de 30 a 40%. Um litro que custava R$ 1,00 está chegando para o consumidor a R$ 1,20 na cidade”, diz ela.

A situação é descrita como crítica pela presidente do sindicato. “A situação aqui é desesperadora, não tem muito que fazer, agora é esperar chegar o novo inverno”, conclui.

HONÓRIO BARBOSA E ELLEN FREITAS – DIÁRIO DO NORDESTE – REGIONAL – 05.10.2012
REPÓRTER/ COLABORADORA

FOTO: HONÓRIO BARBOSA – Secos ou com quantidade de água decrescente, os reservatórios nas fazendas do Interior sinalizam o limite para manter a criação do gado. Do contrário, muitos pecuaristas preferem perder preço e vender para o abate 

FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1188848

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